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29/10/2025
A teoria de Piaget está entre as mais estudadas quando o assunto é desenvolvimento infantil. O psicólogo suíço dedicou sua carreira a observar, registrar e analisar como as crianças pensam, aprendem e constroem significados sobre o mundo. Seu trabalho não descreve apenas fases de crescimento intelectual, mas revela que o conhecimento é fruto de uma participação ativa da criança no processo de aprendizagem.
Piaget nasceu em 1896, na Suíça, e iniciou cedo suas investigações científicas. Sua formação começou na biologia, passou pela filosofia e encontrou na psicologia um campo fértil para estudar como o pensamento se forma. Essa trajetória multidisciplinar explica por que suas ideias unem observação do comportamento infantil, reflexão sobre a mente e compreensão da natureza humana.
Ao invés de olhar para o aprendizado como algo transmitido de fora para dentro, Piaget defendia que a criança constrói seu entendimento por meio de interações com o ambiente. A aprendizagem, portanto, não é um acúmulo de informações, mas um processo de elaboração interna. A criança interpreta, testa, compara, erra, reorganiza e cria novos esquemas mentais.
Dois movimentos principais sustentam esse processo: a assimilação e a acomodação.
A assimilação acontece quando a criança encontra algo novo e tenta compreendê-lo a partir das ideias que já possui. Já a acomodação ocorre quando ela percebe que suas explicações anteriores não são suficientes e precisa reorganizar seu pensamento.
Esse equilíbrio constante entre assimilar e acomodar é chamado de equilibração, um conceito central na teoria piagetiana. É por meio dele que o pensamento se torna mais complexo. “Compreender como a criança pensa é essencial para orientar práticas pedagógicas que respeitem seu ritmo e estimulem sua autonomia”, afirma Katia Jardim, diretora da Escola Moura Jardim, de São Paulo (SP).
Piaget observou que o desenvolvimento intelectual ocorre de forma progressiva e estruturada. Não se trata de um avanço meramente cronológico, mas de mudanças na capacidade de pensar.
As primeiras experiências acontecem no período sensório-motor, que vai do nascimento aos dois anos. Nesse momento, o bebê explora o ambiente por meio dos sentidos e dos movimentos. Ele descobre que pode agir sobre o mundo e que os objetos continuam existindo mesmo quando não estão visíveis.
Na fase pré-operacional, entre dois e sete anos, surge a linguagem e a capacidade de representar situações. A criança começa a brincar simbolicamente, mas ainda pensa de forma centrada no seu próprio ponto de vista. O pensamento é criativo, imaginativo e intenso, mas ainda não apresenta lógica estruturada.
Entre sete e onze anos ocorre o estágio das operações concretas, quando o raciocínio lógico começa a se estabelecer. A criança já consegue resolver problemas, mas precisa de exemplos concretos. É nesse período que ela entende que certas ações podem ser revertidas, como desmontar e remontar um objeto mentalmente.
A partir dos onze ou doze anos, chega o estágio das operações formais, caracterizado pela capacidade de pensar abstratamente. O adolescente passa a refletir sobre hipóteses, causas, consequências e conceitos que não dependem da experiência direta.
Esses estágios não são rígidos, e cada criança progride em seu próprio ritmo. O essencial é compreender que certas habilidades só podem ser desenvolvidas quando há maturidade cognitiva para isso.
Piaget nunca propôs um método pedagógico fechado. Sua contribuição foi científica: ele explicou como o conhecimento se forma e quais condições favorecem esse processo. A partir dessa compreensão, práticas educacionais passaram a considerar a criança como protagonista do próprio aprendizado.
No campo educacional, inspirar-se em Piaget significa criar experiências que estimulem a investigação, o questionamento e a descoberta. O educador organiza ambientes que provoquem a curiosidade e ofereçam desafios possíveis, permitindo que o estudante pense, teste e reconstrua seu entendimento.
“Quando a criança participa ativamente do processo de aprender, ela desenvolve confiança, capacidade de argumentação e maior consciência sobre suas próprias estratégias de pensamento”, afirma Katia Jardim.
As salas de aula mudaram ao longo das décadas, mas a ideia de que aprender exige participação ativa permanece como uma das bases da educação contemporânea. Estudos recentes em neurociência reforçam que o cérebro aprende quando é desafiado, quando erra e quando precisa reorganizar conhecimento – exatamente como Piaget descreveu.
Além disso, sua teoria valoriza o respeito às diferenças individuais. Cada criança chega ao conhecimento de maneira única. Reconhecer essa singularidade ajuda a evitar comparações desnecessárias e expectativas inadequadas.
Um ponto essencial em sua contribuição é a noção de autonomia. Para Piaget, crescer intelectualmente envolve desenvolver a capacidade de pensar por conta própria. Esse processo inclui formular hipóteses, discutir ideias, ouvir o outro, rever posições e chegar a conclusões fundamentadas.
Quando pais e educadores entendem essa dinâmica, tornam-se parceiros valiosos no apoio à aprendizagem. Em vez de buscar respostas prontas, favorecem a investigação; em vez de corrigir imediatamente, incentivam a criança a pensar sobre o que fez; em vez de apenas elogiar resultados, valorizam o esforço cognitivo.
A teoria de Piaget explica que aprender é um processo ativo. A criança constrói o conhecimento ao interagir com o mundo, reorganizando constantemente suas ideias. Esse movimento envolve estágios de desenvolvimento, equilíbrio entre novas informações e conhecimentos anteriores, e um papel central para a autonomia intelectual. Compreender essas bases ajuda famílias e educadores a observar, ouvir e apoiar crianças em sua trajetória de formação, respeitando seu tempo e estimulando seu desejo de aprender.
Para saber mais sobre Piaget, visite https://www.todamateria.com.br/jean-piaget/ e https://novaescola.org.br/conteudo/1709/jean-piaget-o-biologo-que-colocou-a-aprendizagem-no-microscopio