06/10/2025
Celebrar o Dia das Crianças é reconhecer o valor do respeito, do cuidado e do brincar como pilares do desenvolvimento. Esses elementos são tão importantes quanto a alimentação e o sono, pois moldam o corpo, a mente e as relações sociais das crianças. Reconhecer essa fase como única significa entender que cada uma tem um ritmo próprio, com necessidades específicas de afeto, movimento e aprendizado.
O ato de brincar vai muito além do lazer. É por meio dele que a criança organiza o pensamento, cria repertório emocional e aprende a se relacionar. Quando improvisa um jogo, negocia regras ou constrói histórias no faz de conta, ela está desenvolvendo habilidades sociais, cognitivas e motoras. Jogar bola no quintal, montar blocos, inventar personagens ou até mesmo transformar objetos comuns em brinquedos ensina sobre limites, empatia, cooperação e criatividade.
Brincadeiras aparentemente simples oferecem oportunidades de aprendizado complexas. Em uma disputa de tabuleiro, a criança aprende a lidar com vitórias e derrotas. Em um teatrinho improvisado, exercita a imaginação e a empatia. Em cada atividade, existe uma chance de elaborar sentimentos, encontrar soluções e entender o mundo.
Respeitar a infância significa também saber ouvir. Crianças nem sempre expressam sentimentos com palavras, muitas vezes usam gestos, birras ou silêncios. O adulto que observa e escuta com atenção consegue traduzir sinais e dar respostas firmes e acolhedoras. Isso cria confiança, elemento essencial para que regras e limites façam sentido.
“Escutar a criança sem pressa e com interesse real é um dos maiores gestos de respeito que podemos oferecer”, afirma Katia Jardim, diretora da Escola Moura Jardim, de São Paulo (SP). Essa escuta não elimina a necessidade de regras, mas garante que elas sejam compreendidas e vividas de forma significativa.
Limites claros e consistentes organizam a rotina e dão segurança. É importante que a criança participe da construção de combinados, seja em casa ou na escola. Pequenos acordos, como guardar os brinquedos antes do banho ou esperar a vez em um jogo, ensinam responsabilidade e respeito mútuo.
Nenhuma regra funciona sem afeto. A presença cuidadosa, o abraço após o choro e a atenção ao desenho mostrado com orgulho fortalecem o vínculo entre criança e adulto. Mas só o afeto, sem orientação, não dá conta de organizar o comportamento. O equilíbrio entre carinho e firmeza ensina a esperar, a reparar quando erra e a sustentar esforços.
Firmeza, no entanto, não deve ser confundida com autoritarismo. Enquanto o autoritarismo assusta e cala, a firmeza mostra o caminho com clareza e acolhimento. Dizer “vamos tentar de novo juntos” ou “se você bater, precisamos conversar sobre outra forma de resolver” transmite regras sem romper a confiança.
Infâncias sobrecarregadas de compromissos perdem espaço para o silêncio criativo e a invenção. A rotina previsível, que inclui momentos de descanso e de ócio, ajuda na concentração, no humor e no aprendizado. Crianças precisam de tempo para observar, experimentar e até se entediar — é desse tédio que muitas vezes nascem brincadeiras inventivas e descobertas pessoais.
A presença do adulto, mais do que física, deve ser atenta. Conversar olhando nos olhos, descrever o que acontece, oferecer ajuda sem tirar a autonomia da criança: esses gestos nutrem segurança e confiança.
O Dia das Crianças também lembra a importância da convivência. Jogos coletivos ensinam a lidar com frustrações, a esperar a vez e a compartilhar. Disputas inevitáveis por brinquedos ou discordâncias nas regras são oportunidades de mediação. Em vez de resolver tudo no lugar da criança, o adulto pode propor alternativas, como dividir o tempo de uso ou criar uma nova dinâmica. Esse processo ensina negociação, paciência e responsabilidade.
As brincadeiras de faz de conta ainda oferecem a chance de experimentar papéis sociais. Fingir ser professora, médico ou astronauta amplia horizontes, ajuda a elaborar medos e incentiva a empatia. Nessas experiências, a criança percebe como o outro sente e aprende a respeitar diferentes perspectivas.
Nomear sentimentos ajuda na autorregulação emocional. Quando o adulto diz “parece que você ficou triste porque a torre caiu”, dá contorno ao que a criança sente. Isso facilita pensar em alternativas, como reconstruir ou pedir ajuda. Essa prática também ensina que emoções não precisam ser escondidas ou temidas, mas reconhecidas e atravessadas.
Brincadeiras simples podem apoiar esse processo. Criar um “canto da calma” com objetos sensoriais, utilizar músicas para transições de atividades ou contar histórias com personagens que enfrentam dificuldades mostra caminhos práticos para lidar com frustrações e desafios.
O desenvolvimento infantil se fortalece quando família e escola caminham juntas. Quando a criança percebe que os adultos de referência estão alinhados, sente estabilidade e confiança. Trocas respeitosas entre pais e educadores, reuniões para compartilhar observações e abertura para ajustar rotinas fazem toda a diferença.
“A parceria entre família e escola ajuda a criança a se sentir segura e amparada, tanto nos desafios quanto nas conquistas”, reforça Katia Jardim. Esse alinhamento favorece intervenções coerentes e eficientes, ampliando o repertório de apoio disponível para o crescimento da criança.
O Dia das Crianças não precisa se resumir a presentes. Pode ser celebrado com experiências que criam memórias afetivas: um piquenique no quintal, uma tarde de jogos de tabuleiro, um passeio ao ar livre ou até um teatro improvisado em casa. O valor está na presença e no tempo compartilhado, não no consumo.
Respeitar a infância é reconhecer que cada criança é única, com ritmos, emoções e modos de aprender próprios. O Dia das Crianças lembra a todos — pais, educadores e sociedade — que a melhor homenagem é transformar esse respeito em rotina.