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Como reconhecer fobia na infância e adolescência

Entenda a fobia

26/09/2025

Fobia não é timidez, birra ou falta de coragem. Trata-se de um medo intenso, persistente e desproporcional diante de situações, objetos ou ambientes que, em condições comuns, não oferecem risco real. Em crianças e adolescentes, esse medo costuma vir acompanhado de taquicardia, tremores, sudorese, sensação de aperto no peito e um impulso forte de evitar o que assusta. Quando se repete, interfere no sono, no convívio com colegas e no rendimento escolar, gerando sofrimento e limitações que tendem a se perpetuar sem orientação adequada.

Medos fazem parte do desenvolvimento e, em geral, diminuem com a maturidade emocional. O temor de escuro em crianças pequenas, a insegurança diante de pessoas desconhecidas ou o receio de separação dos pais são exemplos previsíveis para certas idades. A fobia se distingue pela intensidade e pela duração: o corpo reage como se houvesse perigo iminente, mesmo quando a razão diz o contrário. O estudante evita elevadores por semanas, recusa atividades que envolvem exposição social, prefere faltar nos dias de apresentação oral ou entra em pânico ao perceber que a casa escureceu com a queda de luz. Essa combinação de medo antecipatório e evitação sistemática desgasta a rotina e afeta objetivos simples, como dormir, participar de uma saída pedagógica ou falar em público.

A literatura clínica descreve fobias específicas, associadas a estímulos bem definidos, como animais, alturas, tempestades, sangue ou injeções, e descreve também a fobia social, quando o medo se concentra nas situações de interação e avaliação por outras pessoas. Em ambos os casos, a antecipação do encontro com o estímulo é suficiente para disparar ansiedade, e a organização do dia começa a girar em torno do que é preciso evitar.

 

Sinais que pedem atenção de pais e educadores

O ponto de virada ocorre quando a criança ou o adolescente não consegue fazer o que fazia antes, quando a evitação se amplia para áreas sem relação direta com o medo original ou quando as queixas físicas aparecem na véspera de situações temidas. Dor de estômago antes da aula de apresentação, dor de cabeça recorrente antes de uma atividade coletiva ou relatos de aperto na garganta são pistas frequentes.

O estudante usa frases como “vou passar mal”, “vão rir de mim” ou “não consigo respirar”, e, ao escapar da situação, sente alívio momentâneo. Esse alívio reforça a fuga, e, sem perceber, a família entra num ciclo em que adapta toda a rotina para afastar o estímulo, o que mantém a fobia ativa.

Registrar quando os episódios começaram, quanto tempo duram, o que piora ou alivia e quais áreas da vida foram impactadas ajuda na avaliação. Detalhes objetivos, como horários, contextos e estratégias que funcionaram mesmo parcialmente, tornam a conversa com profissionais mais assertiva e reduzem interpretações equivocadas, como rotular o estudante de “preguiçoso” ou “manhoso”.

“Quando adultos reconhecem o medo e oferecem um plano simples, a criança percebe que não está sozinha e começa a ganhar confiança para avançar”, afirma Katia Jardim, diretora da Escola Moura Jardim, de São Paulo (SP). Nomear a experiência, sem ridicularizar nem dramatizar, organiza a emoção e abre espaço para escolhas possíveis.

 

Por que a fobia se instala e se mantém

O mecanismo central é o condicionamento. Ao evitar o que assusta, a ansiedade cai rapidamente, e o cérebro registra a fuga como solução. Na próxima oportunidade, evitar de novo parece a melhor saída, e o ciclo se fortalece. Em paralelo, pensamentos catastróficos fazem a ansiedade crescer: o coração acelera e é interpretado como prova de que “algo terrível vai acontecer”; a sensação de calor vira sinal de que “vou desmaiar”; um silêncio breve numa conversa vira “certeza” de que “vão me julgar”.

Em crianças, experiências negativas anteriores, histórias amedrontadoras repetidas ou a observação de reações de pânico em adultos de referência também atuam como gatilhos. Em adolescentes, a importância do olhar do outro intensifica o receio de exposição.

Interromper esse circuito exige novas experiências emocionais com o mesmo estímulo, desta vez graduadas, controladas e seguras. Em linguagem simples, é ensinar o cérebro, passo a passo, que a catástrofe esperada não acontece, que a ansiedade sobe e depois desce, e que é possível permanecer o suficiente para concluir a tarefa.

 

O que fazer em casa sem transformar a rotina em campo minado

Acolhimento e método andam juntos. Em vez de negar o medo ou forçar de uma vez, vale construir uma escada de avanços. Na nictofobia, uma sequência viável pode começar com o estudante adormecendo com abajur e porta entreaberta; em seguida, reduzir a luminosidade por alguns minutos; depois, treinar adormecer com o responsável fora do quarto por um curto período; por fim, conquistar autonomia crescente. No caso da fobia social, preparar exposições com antecedência ajuda: treinar a fala, gravar, assistir, ajustar pausas, simular perguntas e combinar pequenas metas para cada apresentação.

Técnicas simples, como respiração diafragmática lenta, diminuem os sinais físicos que alimentam a preocupação. Frases realistas de enfrentamento — “posso estar nervoso e, ainda assim, consigo terminar”, “meu coração acelera e depois volta ao normal” — substituem pensamentos de tudo ou nada. O elogio deve recair sobre o esforço e a permanência, não apenas sobre um resultado perfeito, para que o cérebro associe avanço à tentativa, e não à fuga.

 

Quando e por que buscar ajuda profissional

Persistência, intensidade e prejuízo funcional são guias práticos. Se a fobia atrapalha o sono, a socialização, as atividades escolares ou o humor, uma avaliação com psicólogo especializado em infância e adolescência se torna recomendável. A terapia cognitivo-comportamental é a abordagem com melhor evidência para fobias. O trabalho combina psicoeducação, identificação de pensamentos automáticos, treino de habilidades e exposição gradual ao estímulo, sempre com plano estruturado e metas factíveis. Em fobia social, o treino de habilidades sociais complementa a exposição: iniciar e encerrar conversas, pedir ajuda, sustentar contato visual, lidar com silêncios e retomar o fio da fala diante de uma interrupção.

Em alguns casos, especialmente quando há outros transtornos associados, como ansiedade generalizada, depressão ou ataques de pânico, a avaliação psiquiátrica considera o uso de medicação por período determinado, em conjunto com a psicoterapia. Cada decisão é compartilhada com a família, e ajustes temporários podem ser combinados para facilitar as primeiras exposições, sem personalizar o currículo nem criar rótulos.

“Buscar ajuda qualificada não é sinal de fraqueza, é um gesto de cuidado que devolve autonomia e qualidade de vida ao estudante”, reforça Katia Jardim. A clareza sobre o objetivo de reduzir o sofrimento orienta o caminho e evita promessas irreais.

 

Cooperação entre família e escola

Sem descrever programas específicos, é possível alinhar expectativas de forma prática. Comunicar à equipe pedagógica que o estudante está em tratamento, indicar o que ajuda e o que atrapalha e propor acomodações temporárias favorece a continuidade escolar. Se o aluno treina apresentações, por exemplo, iniciar com tempos mais curtos, permitir recurso de apoio e ajustar a ordem de fala pode reduzir a ansiedade nas primeiras tentativas. O objetivo não é facilitar indefinidamente, e sim criar rampas que permitam experiências de sucesso, até que o padrão habitual seja retomado sem prejuízo acadêmico.

O ambiente de sala também faz diferença. Regras claras de convivência, mediação de conflitos e valorização do esforço diminuem a possibilidade de chacotas. Quando o adulto modela respeito e encoraja a participação, o estudante com fobia reinterpreta a escola como espaço seguro para experimentar novas respostas.

 

Exemplos frequentes e como desenhar o primeiro passo

Na nictofobia, a escada de exposição transita de um quarto iluminado para luz reduzida e, depois, para adormecer com pouca luz por períodos progressivamente maiores. Em fobias relacionadas a procedimentos médicos, combinar distração, respiração e, quando indicado, manobras de contração muscular melhora a tolerância a exames e vacinas. Em acrofobia, começar por locais baixos, aproximar-se de janelas com proteção e ampliar gradualmente a altura compõem uma trajetória segura. Em fobia social, as metas podem ir de responder a uma pergunta prevista em sala a apresentar um trecho curto, depois um trabalho em dupla, seguindo para exposições mais longas.

 

Erros que prolongam o problema

Forçar de uma vez, ironizar, punir por medo ou recompensar apenas grandes feitos aumenta a evitação. O outro extremo — eliminar toda e qualquer exposição por tempo indeterminado — também mantém a fobia. O caminho mais efetivo equilibra acolhimento e desafio gradual, com metas claras, acompanhamento próximo e revisão das estratégias ao longo do processo.

Fobia tem tratamento e costuma responder bem a intervenções precoces. Observar, registrar episódios, conversar com a criança ou o adolescente sem rótulos e buscar avaliação qualificada são passos que devolvem previsibilidade ao cotidiano. 

Para saber mais sobre fobia, visite https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Comportamento/noticia/2021/08/o-que-e-nictofobia-5-pontos-para-entender-o-medo-do-escuro.html e https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2013/09/seu-filho-tem-medo-do-escuro.html


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