05/09/2025
O crescimento do tempo que crianças passam em frente a telas tem alterado radicalmente sua rotina. Brincadeiras de rua, jogos de bola e corridas no quintal deram espaço para horas sentadas em frente ao celular, televisão ou videogame. Essa mudança no comportamento traz consequências sérias, pois reduz o gasto calórico, compromete o desenvolvimento motor e cria um ciclo de inatividade que tende a se repetir na adolescência e na vida adulta.
Quando a criança não se movimenta, não apenas acumula energia não gasta — que se transforma em gordura corporal — como também deixa de estimular músculos, ossos e articulações. Esse processo prejudica a postura, reduz a resistência física e aumenta o risco de sobrepeso.
Entre os riscos mais conhecidos está a obesidade infantil, uma condição que, além de visível, está diretamente associada a complicações como diabetes tipo 2, colesterol alto e hipertensão. O excesso de peso também gera dores nos joelhos, tornozelos e coluna, já que o corpo infantil ainda está em formação e não suporta sobrecarga por longos períodos.
Outro aspecto relevante é a respiração. Crianças sedentárias podem desenvolver apneia do sono, cansaço constante e dificuldades respiratórias mesmo em atividades leves. O sedentarismo também atrasa o desenvolvimento da coordenação motora, tornando atividades simples — como correr, saltar e subir escadas — mais desafiadoras.
As consequências não se limitam ao corpo. O comportamento sedentário também interfere no campo emocional. Crianças que se sentem diferentes dos colegas durante atividades físicas podem desenvolver insegurança, vergonha e retraimento social. Esses sentimentos, quando não tratados, podem evoluir para ansiedade, baixa autoestima e até depressão.
A falta de movimento também reduz a produção de hormônios ligados ao bem-estar, como a endorfina, o que explica por que crianças inativas tendem a se mostrar mais irritadas ou desmotivadas. “O sedentarismo infantil compromete não apenas a saúde física, mas também o equilíbrio emocional, influenciando a forma como a criança se relaciona com o mundo”, afirma Katia Jardim, diretora da Escola Moura Jardim, de São Paulo.
É comum que o sedentarismo venha acompanhado de uma dieta desequilibrada. O consumo frequente de alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras e açúcares, aumenta ainda mais os riscos de ganho de peso. Quando esse padrão alimentar se alia à ausência de atividade física, o resultado é um círculo vicioso: a criança se sente cansada, evita movimentos e acaba optando por atividades passivas.
O sono também entra nesse ciclo. Crianças sedentárias e com alimentação inadequada costumam dormir mal, acordar cansadas e ter dificuldades de concentração na escola, o que afeta diretamente o desempenho acadêmico.
Pais e responsáveis são peças-chave no combate ao sedentarismo. Mais do que estabelecer regras, é preciso oferecer exemplo. Famílias que valorizam caminhadas, passeios ao ar livre e atividades esportivas transmitem para as crianças a ideia de que se movimentar faz parte da vida.
Estabelecer limites claros para o uso de eletrônicos é igualmente necessário. Criar horários para jogos digitais e priorizar momentos de interação sem telas fortalece os vínculos familiares e estimula a criatividade infantil. Uma simples ida ao parque ou até brincadeiras em casa podem se transformar em experiências saudáveis quando a família participa junto.
Ao contrário do que muitos pensam, não é necessário inscrever a criança em um esporte formal para que ela se beneficie da atividade física. Brincadeiras de pega-pega, esconde-esconde, pular corda ou andar de bicicleta já são suficientes para estimular músculos, coração e pulmões. Além disso, promovem habilidades de convivência, como trabalho em equipe, respeito às regras e resiliência diante de derrotas.
Crianças que se movimentam com frequência apresentam mais energia, melhor concentração nos estudos e maior capacidade de lidar com frustrações. Essas vantagens ultrapassam o campo da saúde e contribuem diretamente para a formação de um indivíduo mais equilibrado.
Ignorar o sedentarismo infantil é permitir que doenças crônicas apareçam cada vez mais cedo. Problemas como pressão alta, colesterol elevado e resistência à insulina, antes associados a adultos acima dos 40 anos, já são encontrados em adolescentes. Isso mostra como o estilo de vida adotado na infância define a saúde futura.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que crianças e adolescentes acumulem pelo menos 60 minutos de atividade física moderada a intensa por dia. Esse tempo pode ser distribuído em brincadeiras, esportes e movimentos naturais da rotina. O importante é que o corpo esteja em constante estímulo.
Embora a família tenha papel central, a escola e a comunidade também devem atuar na prevenção. Espaços de lazer, quadras esportivas, parques e praças são fundamentais para estimular a prática de atividades físicas. “Pais e educadores precisam valorizar a atividade física como parte essencial do desenvolvimento integral da criança”, reforça Katia Jardim.
Além disso, campanhas de conscientização, projetos sociais e incentivo a atividades em grupo são estratégias que ajudam a transformar o movimento em hábito coletivo. Quanto mais oportunidades a criança tiver de brincar e se exercitar, menores serão as chances de desenvolver problemas de saúde ligados ao sedentarismo.
O sedentarismo infantil não é apenas uma fase passageira: é um problema sério que compromete a saúde física, mental e social da criança. Os riscos incluem obesidade, dificuldades respiratórias, problemas ortopédicos e baixa autoestima, podendo se estender até a vida adulta. A boa notícia é que pequenas mudanças de rotina — como reduzir tempo de tela, incentivar brincadeiras ao ar livre e oferecer uma alimentação equilibrada — já produzem resultados significativos.
Para saber mais sobre sedentarismo, visite https://mundoeducacao.uol.com.br/doencas/obesidade-infantil.htm e https://www.pastoraldacrianca.org.br/obesidade/sedentarismo-infantil