29/08/2025
Dormir bem é tão essencial quanto se alimentar de forma equilibrada ou praticar exercícios. O sono funciona como uma engrenagem vital para o corpo e a mente, especialmente durante a infância e a adolescência, fases em que o organismo está em pleno desenvolvimento. Garantir noites reparadoras vai muito além de evitar o cansaço: significa oferecer à criança condições para crescer com saúde, aprender melhor e ter equilíbrio emocional.
Durante o sono profundo, o corpo realiza funções que não acontecem em nenhum outro momento do dia. É nesse período que ocorre a liberação do hormônio do crescimento (GH), fundamental para ossos, músculos e tecidos. A síntese de proteínas, indispensável para reparações celulares, também acontece de forma intensa durante a noite. Quando a criança não dorme bem, todo esse processo é prejudicado, trazendo consequências no crescimento e até em sua resistência física.
No aspecto cognitivo, o sono é indispensável para consolidar memórias e organizar as informações aprendidas ao longo do dia. O cérebro “revisa” experiências, fortalece conexões neurais e prepara a mente para novos conteúdos. Por isso, noites mal dormidas estão diretamente associadas a menor rendimento escolar, dificuldades de atenção e baixa capacidade de concentração.
A dimensão emocional não pode ser esquecida. Crianças e adolescentes que não dormem o suficiente têm mais dificuldade de regular sentimentos, ficam mais irritáveis, impulsivos e podem desenvolver quadros de ansiedade ou tristeza. Além disso, a imunidade é enfraquecida, aumentando o risco de infecções recorrentes.
A forma como uma criança dorme reflete em sala de aula. Estudantes com sono adequado demonstram mais disposição, foco e capacidade de resolver problemas. Já a sonolência diurna gera desatenção, dificuldade de memorização e até comportamentos que se confundem com hiperatividade.
Estudos científicos indicam que, para cada faixa etária, existe uma média de horas de sono recomendada. Bebês necessitam de 14 a 17 horas por dia; crianças pequenas, de 11 a 14 horas; já as maiores, entre 9 e 11 horas por noite. Adolescentes precisam, em média, de 8 a 10 horas para manter o equilíbrio físico e mental. Apesar dessas referências, cada organismo tem particularidades, e os pais devem observar não apenas a quantidade, mas também a qualidade do sono.
“Pais atentos percebem rapidamente quando o sono dos filhos não está sendo reparador. Acordar várias vezes à noite, ter dificuldade para levantar ou apresentar irritabilidade constante são sinais de alerta”, explica Mariana Ribeiro, coordenadora do Ensino Fundamental Anos Iniciais da Escola Moura Jardim, de São Paulo.
Nem sempre dormir mal significa apenas se deitar tarde. Há situações em que distúrbios estão presentes e exigem maior atenção. A apneia do sono, por exemplo, caracteriza-se por roncos fortes e pausas na respiração durante a noite. Essa condição leva a despertares frequentes e a uma qualidade de sono insuficiente, mesmo que a criança passe muitas horas na cama.
Outros problemas frequentes incluem terrores noturnos, pesadelos recorrentes e sonambulismo. Embora alguns desses quadros sejam comuns em determinadas idades, eles podem afetar o desenvolvimento se persistirem. Em alguns casos, a privação crônica de sono faz a criança apresentar sintomas confundidos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), como inquietação e dificuldade de concentração.
Também não se pode ignorar a influência dos hábitos modernos. O uso de telas até tarde da noite, o consumo de alimentos estimulantes (como refrigerantes ou chocolates) e a falta de rotina são fatores que atrapalham o descanso adequado.
Estabelecer uma rotina regular é um dos pontos mais eficazes para melhorar o sono infantil. Dormir e acordar em horários semelhantes, inclusive nos fins de semana, ajuda o organismo a regular seu “relógio biológico”.
O ambiente do quarto também merece atenção: deve ser silencioso, escuro e com temperatura agradável. Para os menores, atividades relaxantes antes de dormir, como banho morno ou leitura de histórias, ajudam a associar o momento ao descanso. Para os maiores, evitar telas pelo menos uma hora antes de deitar é essencial, já que a luz azul dos aparelhos eletrônicos atrapalha a produção de melatonina, hormônio responsável por induzir o sono.
A alimentação exerce papel importante. Refeições pesadas ou estimulantes próximas ao horário de dormir podem dificultar o adormecer. O ideal é oferecer jantares leves e evitar cafeína. Em contrapartida, a prática de atividades físicas regulares contribui para que a criança gaste energia e chegue à noite mais preparada para descansar, desde que os exercícios não sejam intensos nas horas que antecedem o sono.
Outro aspecto essencial é a presença dos pais no processo de educação do sono. Demonstrar tranquilidade e transmitir segurança são atitudes que ajudam os filhos a se desligarem das tensões do dia. “O sono deve ser tratado como prioridade na rotina familiar. Quando os pais dão esse exemplo, as crianças compreendem que dormir bem é parte fundamental de uma vida equilibrada”, ressalta Mariana.
Se mesmo com ajustes de rotina a criança continuar apresentando dificuldade para dormir, despertares frequentes ou sinais de cansaço diurno, é importante procurar ajuda especializada. Médicos pediatras e especialistas em medicina do sono podem avaliar a situação, identificar causas e orientar o tratamento. Em alguns casos, exames específicos ajudam a detectar distúrbios, garantindo que sejam tratados de maneira adequada.
Os pais não devem esperar que os problemas se resolvam sozinhos. Distúrbios do sono podem gerar impacto prolongado no desenvolvimento escolar e emocional. Quanto mais cedo a intervenção, maiores as chances de recuperação e de retorno a uma rotina saudável.
Dormir bem não é luxo, é necessidade. Ao garantir a qualidade do sono, a família está investindo no desenvolvimento físico, no equilíbrio emocional e no sucesso escolar da criança. É um cuidado preventivo que reduz riscos de doenças, melhora a convivência familiar e contribui para formar adultos mais resilientes e saudáveis.
Pais, professores e profissionais de saúde precisam atuar em conjunto para reconhecer sinais de dificuldades e promover estratégias que favoreçam noites mais tranquilas. Com pequenas mudanças de hábito, é possível transformar a relação das crianças com o descanso. Em um cotidiano cada vez mais acelerado, é essencial lembrar que crescer de forma saudável depende também de respeitar o tempo de parar, desligar e recuperar as energias.
Para saber mais sobre sono, visite https://drauziovarella.uol.com.br/pediatria/como-o-sono-impacta-o-desenvolvimento-infantil/ e https://institutodosono.com/artigos-noticias/o-papel-vital-do-sono-para-o-funcionamento-do-organismo/