18/08/2025
O vídeo divulgado pelo criador de conteúdo Felipe Bressanim Pereira, o Felca, em agosto de 2025, expôs de forma contundente um problema que vem crescendo nos últimos anos: a adultização infantil. O material, que viralizou nas redes e alcançou milhões de visualizações, denunciava casos de sexualização precoce e falhas de moderação das plataformas, além de mostrar como os algoritmos favorecem a circulação desse tipo de conteúdo. A repercussão levou o assunto ao Congresso Nacional e despertou a atenção de famílias, educadores e autoridades para um desafio que, embora tenha ganhado visibilidade agora, não é novo.
A adultização infantil se refere ao processo em que crianças e adolescentes passam a adotar comportamentos, aparência e linguagens associadas à vida adulta antes de estarem prontos emocional e cognitivamente para isso. Essa antecipação pode ocorrer de diferentes formas, como o uso de roupas e maquiagens inadequadas para a idade, o consumo ou participação em conteúdos de conotação sexual, a inserção precoce em relacionamentos e até a cobrança excessiva por desempenho e postura adulta no dia a dia. Embora essa realidade também exista fora do mundo virtual, o ambiente digital acelerou e intensificou o fenômeno, permitindo que, com poucos cliques, crianças tenham contato com padrões de comportamento que não condizem com seu estágio de desenvolvimento.
O funcionamento dos algoritmos das redes sociais contribui diretamente para esse cenário. Quando uma criança interage com conteúdo que remete à estética adulta, rapidamente passa a receber recomendações semelhantes, criando um ciclo de exposição difícil de interromper. Além disso, conteúdos polêmicos ou com forte apelo visual tendem a gerar maior engajamento e, consequentemente, retorno financeiro para criadores e plataformas. Isso leva, em alguns casos, até mesmo pais e responsáveis a expor seus filhos na busca por popularidade ou ganhos, muitas vezes sem plena consciência dos riscos envolvidos.
As consequências da adultização precoce são graves e podem afetar de forma duradoura o desenvolvimento infantil. Crianças expostas a padrões adultos antes do tempo podem desenvolver ansiedade, baixa autoestima e insegurança, além de distorções na percepção do próprio corpo. A constante exposição a conteúdos sexualizados compromete ainda a compreensão sobre consentimento, limites e relações interpessoais. “Proteger a infância é garantir que cada etapa seja vivida plenamente, respeitando o tempo de amadurecimento e preservando o bem-estar emocional”, afirma Katia Jardim, diretora da Escola Moura Jardim, de São Paulo.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a proteção integral contra qualquer forma de exploração, incluindo aquela que acontece nas redes sociais. A lei permite que pais, responsáveis, influenciadores e empresas de tecnologia sejam responsabilizados por exposições que coloquem menores em risco. Nos últimos anos, a atuação de órgãos públicos tem sido reforçada, com investigações, remoção de conteúdos e aplicação de sanções a quem descumpre as normas.
A prevenção começa em casa. É fundamental que pais e responsáveis conheçam as plataformas utilizadas pelos filhos, monitorem o conteúdo acessado, estabeleçam regras claras para o uso da tecnologia e conversem de forma aberta sobre segurança e privacidade. Um diálogo constante ajuda as crianças a se sentirem seguras para compartilhar experiências desconfortáveis, permitindo que situações de risco sejam identificadas e interrompidas rapidamente.
O ambiente escolar também desempenha papel essencial na proteção da infância. Ao abordar temas como cidadania digital, respeito, autoestima e segurança online, a escola contribui para que os estudantes desenvolvam senso crítico e saibam identificar perigos. Além disso, pode ser um espaço de apoio às famílias, ajudando na orientação e no encaminhamento de casos suspeitos aos órgãos competentes. A parceria entre escola e família fortalece a rede de proteção e amplia a capacidade de prevenção.
O caso Felca evidenciou, ainda, a necessidade de políticas públicas mais efetivas para proteger crianças no ambiente digital. Projetos em discussão incluem medidas como verificação de idade, retirada rápida de conteúdos impróprios e responsabilização das plataformas que não agirem de forma preventiva. Campanhas de conscientização amplas, que alcancem todas as camadas da população, também são indispensáveis para que o combate à adultização infantil seja efetivo.
A luta contra a adultização infantil é um compromisso coletivo e contínuo. Não se trata apenas de reagir a casos de grande repercussão, mas de adotar práticas diárias que valorizem a infância, respeitem o tempo de cada fase e promovam ambientes — físicos e virtuais — seguros e adequados. Ao proteger as crianças hoje, garantimos que cresçam com segurança, autoestima e maturidade para enfrentar, no futuro, os desafios do mundo adulto.
Para saber mais sobre adultização infantil, visite https://gauchazh.clicrbs.com.br/viral/noticia/2025/08/felca-e-adultizacao-saiba-o-que-aconteceu-apos-a-repercussao-do-caso-levantado-pelo-youtuber-cme9yiseu0008014lbnwnan1c.html e https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/08/13/monetizacao-exploracao-de-menores-e-redes-de-pedofilia-entenda-denuncias-feitas-por-felca.ghtml