04/08/2025
Buscar o filho na escola, preparar o café da manhã ou conversar sobre o que aconteceu no dia são atitudes simples que marcam a infância e reforçam os vínculos familiares. Quando o pai participa dessas rotinas com constância, afeto e atenção, ele promove uma convivência significativa e ajuda a formar adultos emocionalmente mais saudáveis. A presença paterna tem um impacto direto no modo como a criança se sente acolhida e protegida em seu próprio lar.
Esse envolvimento cotidiano, que vai muito além do papel de provedor, define o conceito de paternidade ativa. Trata-se de uma mudança que envolve escuta, responsabilidade e cuidado afetivo. Ao participar do crescimento dos filhos com presença real — física e emocional — o pai se torna referência de afeto, segurança e respeito, contribuindo para o desenvolvimento integral da criança.
Homens que se engajam no cuidado dos filhos relatam mais empatia, autorreflexão e capacidade de dialogar. Ao assumir o papel de cuidador, o pai se distancia de estereótipos ligados à rigidez e à autoridade distante, mostrando que masculinidade pode andar ao lado da sensibilidade.
“Pais que participam da vida escolar, das brincadeiras e dos cuidados do dia a dia contribuem para o equilíbrio emocional dos filhos”, afirma Mariana Ribeiro, coordenadora do Ensino Fundamental Anos Iniciais da Escola Moura Jardim, de São Paulo. Segundo ela, a presença paterna é um dos pilares para uma infância mais estável, saudável e feliz.
A atuação constante do pai no cotidiano da criança amplia sua percepção sobre os papéis sociais e contribui para que ela cresça entendendo que cuidar não é tarefa exclusiva da mãe. Esse aprendizado interfere na maneira como os filhos se relacionam, se comunicam e enxergam o mundo. Meninos e meninas que vivenciam a escuta e o acolhimento paternos costumam desenvolver com mais naturalidade a empatia, a cooperação e a autonomia.
Estudos em psicologia do desenvolvimento mostram que a ausência afetiva do pai pode afetar a construção da autoestima infantil, gerar insegurança e interferir até no desempenho escolar. Por outro lado, a figura paterna presente ajuda a criar um ambiente emocional mais equilibrado, no qual a criança se sente valorizada, compreendida e capaz de enfrentar os desafios do crescimento.
Mesmo diante dessa importância, muitos homens ainda enfrentam barreiras para se tornarem pais ativos. A cultura machista, que associa o cuidado a uma suposta fragilidade, impede que muitos expressem afeto ou se envolvam com naturalidade nas tarefas domésticas e nos momentos de carinho. Além disso, o mercado de trabalho muitas vezes não reconhece a necessidade de flexibilização da rotina para que os pais estejam mais presentes na vida familiar.
Em diversos países, já se discute a ampliação da licença paternidade como um passo fundamental para equilibrar os papéis parentais. No Brasil, esse direito ainda é restrito: a maioria dos trabalhadores tem apenas cinco dias de afastamento após o nascimento do filho. Essa limitação compromete o vínculo nos primeiros meses e impede uma divisão mais justa das responsabilidades logo no início da vida da criança.
Além da questão legal, é necessário um esforço cultural. O incentivo à participação do pai nas consultas médicas, nas reuniões escolares e nos cuidados do dia a dia precisa ser fortalecido em todos os ambientes sociais. Isso inclui escolas, empresas, serviços de saúde e também os próprios grupos familiares.
A mudança de mentalidade começa por valorizar os pequenos gestos: dar banho, colocar para dormir, acompanhar a lição de casa, contar histórias, conversar sobre sentimentos. Esses momentos, aparentemente simples, são os que mais constroem a memória afetiva da infância e consolidam o vínculo entre pai e filho.
Quando os profissionais do ambiente escolar acolhem o pai como um parceiro ativo na educação, criam pontes que favorecem o engajamento. Um convite direcionado, um elogio à participação ou a inclusão do pai em atividades escolares são formas de legitimar seu lugar como cuidador. Isso reforça a ideia de que o envolvimento paterno não é uma ajuda, mas uma responsabilidade partilhada.
Para muitas famílias, a transformação da paternidade também significa romper com padrões herdados. Homens que cresceram sem a presença ativa de seus pais podem enfrentar dificuldades emocionais ao assumir esse papel. No entanto, esse histórico não impede que se tornem pais atentos e dedicados. Ao contrário: reconhecer as ausências vividas pode ser o primeiro passo para construir uma nova trajetória, baseada no afeto e na presença.
O psicólogo e escritor italiano Alberto Pellai, em suas obras sobre vínculos familiares, ressalta que a figura do pai representa para a criança o mundo exterior: é por meio dele que ela começa a se aventurar fora do núcleo materno, testando sua autonomia. Se esse pai estiver disponível emocionalmente, a criança se sente segura para explorar, errar e crescer. A ausência, por outro lado, gera insegurança e medo da exposição.
A paternidade ativa não significa perfeição, mas presença. Não se trata de fazer tudo certo, mas de estar disponível, de ser uma referência constante e de construir confiança por meio da convivência diária. O afeto é construído em camadas: um passeio, uma conversa, um abraço, um “eu te amo” dito com sinceridade. A soma desses gestos forma um legado emocional que os filhos carregam por toda a vida.
Para que essa transformação seja duradoura, é essencial que as crianças também vejam, desde pequenas, homens que cuidam. Pais que choram, que abraçam, que erram e pedem desculpas. Isso forma uma nova geração com mais equilíbrio emocional e com maior capacidade de se conectar com os outros de forma empática e respeitosa.
Valorizar a paternidade ativa é, portanto, um investimento coletivo. Ganha a criança, que cresce mais segura e confiante. Ganha o pai, que constrói laços afetivos verdadeiros. Ganha a família, que se torna mais equilibrada. E ganha a sociedade, que se aproxima de relações mais justas, humanas e colaborativas. Mesmo com desafios, a caminhada para uma paternidade mais presente é possível. Começa com o reconhecimento de que o cuidado não é uma tarefa feminina, mas um compromisso de todos.
Para saber mais sobre paternidade ativa, visite https://www.meer.com/pt/80720-a-importancia-da-paternidade-ativa-na-infancia