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26/11/2025
Roer unhas, organizar brinquedos sempre da mesma forma, balançar as pernas constantemente ou insistir em pisar apenas nas pedras brancas da calçada. Esses pequenos rituais fazem parte do universo infantil e aparecem com frequência no cotidiano das famílias. A mania está presente na vida de muitas crianças como uma forma natural de processar emoções e lidar com o mundo ao redor, mas nem sempre os pais sabem identificar quando esses comportamentos são apenas uma fase passageira ou quando merecem maior atenção.
Toda criança desenvolve, em algum momento, pequenos rituais que se repetem ao longo do dia. Esses comportamentos surgem de forma espontânea e geralmente servem a um propósito emocional importante para os pequenos. Morder tampas de canetas, separar a comida no prato seguindo um padrão específico, precisar seguir uma sequência exata antes de dormir ou tocar determinados objetos repetidas vezes são exemplos comuns desses hábitos.
A diferença entre uma mania e um tique merece destaque. Enquanto a mania envolve rituais comportamentais que a criança escolhe fazer, mesmo que inconscientemente, o tique representa movimentos involuntários como piscar os olhos rapidamente ou fazer sons repetitivos. Reconhecer essa distinção ajuda pais e educadores a compreenderem melhor o que observam e como devem agir diante de cada situação.
O período entre 2 e 5 anos concentra o aparecimento da maioria dessas manifestações. Nessa faixa etária, as crianças vivenciam intensas transformações em suas capacidades motoras, emocionais e sociais. Os pequenos rituais funcionam como ferramentas que ajudam a processar tantas novidades e criam uma sensação de controle sobre o ambiente.
"Observamos que muitas famílias se preocupam excessivamente com comportamentos que fazem parte do desenvolvimento natural da criança. O importante é manter o equilíbrio entre observar com atenção e não transformar uma mania simples em motivo de ansiedade para toda a família", explica Katia Jardim, diretora da Escola Moura Jardim, de São Paulo (SP).
Conforme a criança amadurece e desenvolve melhores formas de expressar seus sentimentos, a tendência natural é que essas manias diminuam gradualmente. Algumas podem persistir até a adolescência ou vida adulta, especialmente quando não causam prejuízos ao bem-estar da pessoa. O problema surge quando o comportamento se intensifica e começa a interferir nas atividades diárias.
Ansiedade, tédio, alegria, insegurança ou medo podem desencadear comportamentos repetitivos. A criança encontra nesses rituais uma válvula de escape para emoções que ainda não consegue nomear ou expressar adequadamente. Um simples hábito de balançar os pés enquanto assiste televisão pode representar uma forma de acalmar a ansiedade, assim como organizar objetos de maneira específica pode trazer uma sensação de segurança.
Identificar os gatilhos emocionais que precedem a manifestação da mania permite aos pais compreenderem melhor o que a criança está vivenciando internamente. Essa observação cuidadosa do contexto em que os comportamentos aparecem fornece pistas valiosas sobre as necessidades emocionais dos pequenos.
Punir ou repreender a criança por causa de uma mania raramente produz resultados positivos e pode até intensificar o comportamento. A abordagem mais eficaz envolve compreensão, paciência e estratégias suaves de redirecionamento. Dialogar com a criança sobre seus sentimentos, adaptando a conversa à sua idade, abre caminhos para que ela encontre outras formas de expressar o que sente.
Desviar a atenção funciona melhor que confrontar diretamente o comportamento. Propor uma brincadeira diferente, iniciar uma atividade envolvente ou simplesmente mudar o foco da criança para outro assunto pode reduzir naturalmente a frequência da mania. Objetos de conforto como um brinquedo favorito ou um paninho também oferecem segurança emocional para crianças menores.
Criar rotinas previsíveis diminui a ansiedade infantil e, consequentemente, pode reduzir comportamentos repetitivos associados à insegurança. Ambientes emocionalmente seguros, onde a criança se sente acolhida para expressar todos os seus sentimentos, contribuem significativamente para que ela desenvolva formas mais saudáveis de lidar com suas emoções.
A maioria das manias infantis não traz impactos negativos ao desenvolvimento e desaparece naturalmente com o tempo. Entretanto, alguns sinais indicam a necessidade de avaliação profissional. Se o comportamento repetitivo começa a consumir muito tempo do dia da criança, interfere em suas atividades habituais, causa sofrimento visível ou limita suas interações sociais, chegou o momento de buscar orientação especializada.
Psicólogos infantis e pediatras especializados em desenvolvimento podem identificar se a mania está associada a condições mais complexas. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), por exemplo, pode se manifestar através de rituais intensos e incapacitantes na infância. Checagens repetitivas que tomam horas, necessidade compulsiva de organizar objetos de forma específica ou comportamentos como arrancar fios de cabelo exigem acompanhamento profissional adequado.
A ansiedade generalizada também pode se expressar através de manias que se intensificam progressivamente. Nesses casos, o tratamento adequado não apenas ajuda a criança a lidar com os comportamentos repetitivos, mas também trabalha as causas emocionais subjacentes que os alimentam.
O ambiente familiar desempenha papel fundamental no desenvolvimento saudável das crianças. Pais que conseguem equilibrar observação atenta com tranquilidade ajudam seus filhos a superarem as manias de forma natural. Evitar dramatizar ou dar atenção excessiva aos comportamentos repetitivos impede que eles sejam reforçados negativamente.
Conversar abertamente sobre emoções desde cedo ensina as crianças a reconhecerem e nomearem o que sentem. Essa educação emocional reduz a necessidade de rituais como forma de processar sentimentos complexos. Quando a criança aprende que pode falar sobre seus medos, ansiedades e inseguranças, ela encontra alternativas mais saudáveis que comportamentos repetitivos.
"A parceria entre família e escola fortalece o desenvolvimento emocional das crianças, criando uma rede de apoio que facilita a superação de pequenos desafios do cotidiano", destaca Katia Jardim.
Compreender que as manias infantis geralmente representam etapas naturais do desenvolvimento emocional traz alívio para muitas famílias. Com observação cuidadosa, paciência e apoio adequado, os pais podem ajudar seus filhos a atravessarem essas fases de forma saudável, promovendo seu bem-estar e crescimento integral. O importante é manter o olhar atento sem transformar pequenos hábitos em grandes preocupações, intervindo apenas quando realmente necessário e sempre com acolhimento e compreensão.
Para saber mais sobre mania infantil, visite https://lunetas.com.br/manias-das-criancas/ e https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/06/08/manias-rituais-e-tiques-na-infancia-quando-e-preciso-se-preocupar.htm